A literatura Nazi nas américas

Uma das obras mais engenhosas e perturbadoras do autor chileno. Publicado em 1996, o livro apresenta-se como uma espécie de enciclopédia ficcional: um conjunto de biografias inventadas de escritores das Américas, todos ligados, de modo mais ou menos direto, ao fascismo.

Bolaño constrói um catálogo minucioso de nomes, títulos, datas e movimentos literários imaginários, recriando com ironia e precisão documental uma história paralela da literatura. Por trás do humor e da paródia, o livro propõe uma reflexão sombria sobre a relação entre arte e ideologia. O talento, a estética ou a busca de originalidade podem coexistir (coexistem, de facto) com a violência e o fanatismo. 

Uma crítica profunda ao culto da genialidade e à tentação totalitária, tanto política como artística. A Literatura Nazi nas Américas antecipa temas que Bolaño desenvolveria mais tarde em Os Detectives Selvagens e 2666: a fronteira entre o real e o inventado, o fracasso como condição do artista e o mal como presença persistente na cultura.

Roberto Bolaño (1953–2003), chileno errante, viveu o que escreveu. Exilado, marginal, obsessivo, morreu cedo e deixou uma obra monumental. Entre o México, a Catalunha e a noite interminável da poesia latino-americana, construiu uma mitologia própria onde o sobreviver ao fracasso é a única vitória possível.