Não esperes um romance. Um ritual pagão. Uma implosão do modelo familiar. Uma afronta à moral cristã. Uma ode ao inevitével. Um filho pródigo, febril, pelo desejo, pela culpa, pela rebeldia. Não esperes simplicidade. A tradição asfixia, o amor sufoca, o pai comanda com mão divina, a mãe é o silêncio que consente a ordem do sacrifício.
Uma vertigem entrecortada por imagens bíblicas, delirantes. E um lirismo que se aproxima do profano tanto como do sagrado. Ou do que de um há no outro. Denso como terra molhada, impregnada de sangue, suor.
Não se trata de uma fuga de casa. Trata-se da ordem e o que ela representa. E do seu fim. Trágico no sentido literário da palavra. A relação com a irmã Ana. O tabu escancarado desde as primeiras linhas.
Não esperes, momento algum, qualquer tipo de consolo.
Raduan Nassar, nascido em 1935, nunca foi o escritor que a crítica adora aplaudir. Filho de imigrantes libaneses, abandonou a literatura para se dedicar à agricultura. Apenas três obras publicadas - Lavoura Arcaica, Um Copo de Cólera, Menina a Caminho. Incontornáveis.
