Uma visão sombria e fragmentada da história: o poder e a condição humana. Publicado já no final da sua vida, o texto segue a lógica experimental que caracteriza grande parte da sua escrita: imagens poéticas e cortes abruptos, onde o discurso é tão importante quanto a "cena". Nesta edição algumas entrevistas também. A lucidez.
O texto (ou a peça, ou o ensaio) não segue uma narrativa linear. Parece mais uma colisão de fragmentos, monólogos e diálogos. A linguagem é carregada de referências históricas e culturais, indo da mitologia ao totalitarismo do século XX, antevendo o Século XXI.
O título, O Futuro é o Mal, é um aviso: a ideia de futuro, colonizado por ideologias ou utopias herméticas, torna-se um instrumento de opressão.
É uma obra incómoda mais do que reconfortante. Mal por mal, se procuras conforto, salta este livro. Aliás, salta Heiner Muller e pronto.
Heiner Müller (1929–1995) poeta, dramaturgo, encenador. É descrito muitas vezes como “o mais importante autor de língua alemã depois de Brecht”. Não sou dado a hipérboles. Mas é aquele a quem recorro quando preciso de uma dose de lucidez no meio da catastrofe. E é "dele" uma das minhas maiores penas: nunca poder ter visto, ao vivo, nenhuma peça de teatro encenada por ele. Foi por pouco.
