Os dissabores do verdadeiro polícia

Publicado postumamente em 2011, funciona como um prolongamento e, ao mesmo tempo, como uma variação de 2666. O romance, deixado inacabado, retoma personagens e temas centrais do universo de Bolaño: a errância, a literatura, o crime, o desejo e a impossibilidade de compreender plenamente o mal.

A figura de Amalfitano, professor universitário que se refugia numa cidade fronteiriça mexicana, serve de eixo à narrativa, que se desenvolve entre fragmentos, cartas e reflexões sobre arte, ética e paixão. À volta dele circulam estudantes, escritores e fantasmas, intelectuais desiludidos, vítimas e cúmplices de um mundo que perdeu a noção de centro e de fronteira.

Uma clareza inquietante, feita de lucidez e desencanto. Pode ser lido como uma despedida: uma tentativa de reunir, pela última vez, os ecos dispersos de uma obra imensa e coerente na sua visão moral. Adeus?

Roberto Bolaño (1953–2003), nascido no Chile, foi poeta, contista e romancista, e é hoje uma das figuras centrais da literatura latino-americana contemporânea. Viveu no México e mais tarde em Espanha, levando consigo a experiência do exílio e da precariedade. A sua escrita combina rigor formal e intensidade ética, explorando as zonas de sombra da cultura e da história. Obras como Os Detectives Selvagens, 2666 e Noturno Chileno consolidaram a sua reputação internacional.