Serotonina (2019)

Neurotransmissor que atua no cérebro, estabelecendo comunicação entre as células nervosas, podendo também ser encontrada no sistema digestivo e nas plaquetas do sangue. Esta molécula, também conhecida por "hormona da felicidade" é produzida a partir do aminoácido triptofano, que é obtido através dos alimentos. 

A serotonina regula o humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade e funções cognitivas e, por isso, quando se encontra numa baixa concentração, pode causar mau humor, dificuldade para dormir, ansiedade ou mesmo depressão.

Entre hotéis baratos, refeições sem prazer e amores falhados, o romance pinta um retrato cruel de uma Europa envelhecida, onde até a agricultura, símbolo do trabalho ancestral e da ligação à terra, é esmagada pela lógica global.

A serotonina, reduzida a comprimido, torna-se metáfora de uma vida domesticada quimicamente, em que a promessa de felicidade foi substituída por um torpor funcional.

Não há redenção, apenas a diminuição de tudo: da amizade, da paixão, da identidade. O romance é o que preferimos negar. A decadência não é uma catástrofe súbita. É um apodrecimento diário, administrado com um sorriso farmacêutico.

Michel Houellebecq, nascido em 1956 na ilha da Reunião, é o escritor que a França ama odiar. Chamam-lhe reacionário, misógino, profeta do niilismo, medalhas que usa com orgulho. A sua força está em recusar o conforto: escreve como quem esfrega sal nas feridas de uma Europa cansada, incapaz de se reinventar. O ressentimento mostra o que muitos intuem mas não querem apontar: a nossa civilização, medicada e entorpecida, prepara o seu funeral.