Sonechka
Sonechka
A alma Russa escapa-nos por entre os dedos. Vemos apenas os grãos mais leves. Os que flutuam. O Império, os Czares, o Comunismo, a Utopia, a Crueldade, a Violência, o Autoritarismo.
A peneira da imprensa e do jornalismo não é densa o suficiente para no-la mostrar (nem mesmo a da História). É preciso a literatura. Texto após texto, o abismo de uma sensação de Susto que não se desfaz.
O grão mais fino da "Alma russa" deposita-se e, sedimentada através dos séculos, petrifica-se, tornando-se invisível.
« Nadamos, à superfície de um lago cristalino, ignorando a areia, a terra e a lama que aprisionam as águas. »
Ludimila Ulitskaya tem a idade da minha mãe. O que escreve cabe numa geração. Não é passado. É hoje.
Sonetchka, publicado sobre as cinzas do colapso soviético, mostra-nos a crueldade que escora um pilar fundamental da "Alma russa". Um que nunca ruiu. A "mulher Russa", silenciosa, abnegada, dedicada, mestre na arte de desaparecer. Ironia e melancolia.
Na lucidez da escrita, a acusação: o sofrimento não é uma virtude. Pode a submissão ser heroísmo? Com uma grande dose de cobardia, sim - diz o Iluminista: pura estupidez.
Ludmila Ulitskaya, nascida em 1943, é uma das grandes vozes dissidentes da literatura russa contemporânea. Ex-bióloga e crítica feroz do autoritarismo, escreve contra o mito nacional da obediência moral. Desmonta sem fúria, o arquétipo da mulher-símbolo. Serenamente.
Por isto é importante (o livro, a autora): É preciso perceber a Russia.
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