Submissão (2015)

O romance mais polémico de Michel Houellebecq - é preciso não ter medo de vender. 

Uma França governada por um partido islâmico moderado. com a política no pano de fundo para um diagnóstico mais vasto: o esvaziamento moral e cultural do Ocidente.

O protagonista, François, professor universitário apático, vive mergulhado em pornografia, comida pré-fabricada e indiferença existencial (sounds familiar?). Quando o regime islâmico lhe oferece estatuto, dinheiro e mulheres jovens em troca da conversão, ele aceita sem olhar para trás. 

E aí, a brutalidade: não há choque, não há drama, apenas rendição (dócil). Não é possível evitar o sarcasmo na fragilidade das nossas convicções liberais. Por detrás do discurso civilizado, há um vazio pronto a ser preenchido por qualquer promessa de ordem e sentido.

O desconforto é inevitável porque a sátira é demasiado próxima da realidade.

Michel Houellebecq, nascido em 1956 na ilha da Reunião, construiu carreira ao dissecar, com frieza quase científica, os restos do humanismo europeu. Acusado de islamofobia, misoginia e cinismo, ele prefere assumir-se como observador cruel da nossa decadência. A sua literatura não procura conforto nem reconciliação. Houellebecq tornou-se o escritor que muitos detestam ler mas não conseguem ignorar, porque a sua prosa atira o leitor contra um espelho sujo onde a imagem refletida é a nossa própria capitulação.