Conto. Curto. Inclemente. Um sussurro. Transporta a precisão cruel de quem sabe que cada palavra corta. Uma menina pobre, enviada pelos pais para a cidade, em busca de um futuro melhor. Mas não é o futuro. É uma armadilha.
Impotente, vais assistir a esta caminhada, com quem vê um animal, entregue à sua própria sorte.
O que fica, não é o que é dito. É o que não é dito. Aquilo que se adivinha.
O silêncio é brutal. Cada omissão, uma denúncia. Cada pausa, um grito. O tom é quase bíblico, de uma violência absurda, velada como normalidade. Não há piedade nem conforto. Só um caminho. E uma "menina" entregue como oferenda.
Uma crítica impiedosa à passividade familiar, à miséria, à sociedade que normaliza o sacrifício dos mais vulneráveis.
Raduan Nassar, nascido em 1935, nunca foi o escritor que a crítica adora aplaudir. Filho de imigrantes libaneses, abandonou a literatura para se dedicar à agricultura. Apenas três obras publicadas - Lavoura Arcaica,Um Copo de Cólera, Menina a Caminho. Incontornáveis.
